sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Filtros fotográficos na Era Digital



Descrição de filtros usados na fotografia, conselhos práticos e recomendações. Uma abordagem técnica e prática pelo fotógrafo de natureza Hélio Cristóvão.
Acrescente mais ao que sabe sobre filtros fotográficos com este artigo, com as seguintes questões-chave:
» Devo utilizar filtros UV/Skylight para proteger a lente da objectiva?
» Filtros de densidade neutra, incluindo gradientes – mude as regras da exposição!
» O Polarizador explicado.
» muito, muito mais.
Uma boa frase que descreve o uso de filtros em fotografia provém do fotógrafo Thom Hogan, que passo a citar:
Os filtros são úteis. Ou inúteis. Apenas depende da finalidade para a qual os está a usar.
Esta sentença resume bem a abordagem ao uso de filtros que o leitor conhecerá nas próximas linhas. Então o que se passa afinal no mundo dos filtros na era digital? Quando se deve utilizar certo tipo de filtros, quais os efeitos e as possibilidades? Qual o filtro a usar para protecção das suas lentes?
Uma regra que estabeleci na minha fotografia é: quanto menos vidro colocar à frente do meu bom vidro de lentes, melhor. Ou então coloco à frente bom vidro também. Na era digital de fotografia, o uso de filtros para correcção de dominantes do cor, equilíbrio de tons, e resumidamente todos aqueles que não interferem no efeito estético da composição – tal como controle de velocidade de obturação ou polarização – sofreram um decréscimo de utilização.

“The Outer Realm (A Outra Dimensão)”
Cabo da Roca, Setembro de 2008. Entardecer aproximando-se a hora de Pôr-do-Sol, trabalham-se longas exposições numa composição simples com dinâmica
12-bit RAW – 13mm/15mm (APS) f/22 4seg. e 1seg. ISO100 (temp. côr a 5900K)
Duas interpretações muito distintas da mesma cena, enquadramento ligeiramente diferente. Exemplo de utilização de filtros gradientes – a utilização de dois filtros sobrepostos, somando 5 pontos de exposição a menos ao céu (filtros esses que “deveriam” ser de densidade neutra) mas por outro lado permitem obturar a menor velocidade e transformam o céu com coloração.

O Filtro UV e Skylight
Apesar de não ser visível ao olho humano, o sensor digital, ou a película da sua máquina fotográfica, são muito sensíveis à radiação Ultra-Violeta, responsável por dominantes de cor azulada em fotografia feita com luz Solar no exterior, ou perda de alguma definição por existência de neblina distante, frequente em cenários de montanha.
Embora a quantidade de radiação UV existente na atmosfera seja pequena relativamente ao espectro de luz visível, em cenários de neve, areia clara e água (paisagens com mar, lagoas e rios), deve ser utilizada filtragem UV, pois estes elementos reflectem intensamente raios nesta gama de radiação, por vezes com resultados que podem ser indesejáveis na fotografia.
Um bom filtro UV deve ser transparente à luz visível, e partindo deste princípio, poderá ser utilizado na maioria das suas fotografias, motivo pelo qual, aliado a um custo relativamente baixo, é utilizado normalmente como filtro protector de lentes.
O filtro Skylight é uma versão “colorida” do filtro UV, pois apesar de filtrar essa radiação, é geralmente dotado de uma pequena coloração rosa ou amarela para proporcionar tons ligeiramente mais quentes, cortando algum excesso de azul tendencialmente mais forte no céu.
Considerações sobre estes filtros:
- não alteram a exposição;
- possibilitam o controle de tons azuis do céu;
- filtram raios UV mas toda a luz visível deve passar;
- certos fabricantes de filme defendem que película mais moderna não é sensível à luz ultra-violeta;
- filtros devem ser revestidos (‘multicoated’) para prevenção de reflexos e melhoria de contraste e definição, sobretudo na presença de fonte de luz forte ou em contra-luz (exemplo: frente ao Pôr-do-Sol);
- recomendados filtros de pequena espessura (3mm, exemplo Hoya Pro1D), sobretudo em objectivas ultra grande-angulares.
O Filtro Polarizador Circular

Antes de falar sobre o filtro polarizador, é importante uma breve introdução sobre a luz no domínio da física, para melhor compreender a utilização deste filtro.
A luz é constituída na sua essência por partículas elementares designadas fotões, que se propagam no espaço sob a forma de ondas electromagnéticas. Como radiação electromagnética, a luz tem três propriedades físicas básicas, sendo elas a amplitude (brilho), frequência (côr) e polarização (ângulo de vibração). A polarização da luz ocorre quando esta radiação, que se propaga no espaço tridimensionalmente (em todas as direcções), ao incidir numa superfície plana, se propaga em apenas um plano, devendo-se este efeito à capacidade refractora entre materiais diferentes – atmosfera e água, por exemplo.
O filtro polarizador tem a capacidade de deixar atravessar toda a luz tridimensional “pura” que oscila no espaço, mas atenuar selectivamente a luz polarizada que oscila entre planos do filtro. O filtro polarizador circular roda entre 2 anéis, alternando os planos onde atravessa luz, possibilitando o controle do efeito. Assim, rodando o anel para um plano diferente ao da luz polarizada, essa mesma luz será cortada/atenuada, sendo aplicado o princípio do ângulo de Brewster. O efeito do polarizador é potenciado em fotografia exterior com luz do Sol, fotografando a 90º do mesmo, ou seja, com o Sol à nossa direita ou esquerda (ângulos em que a luz é mais polarizada).


“Sanguine Water”, Parque Nacional Peneda-Gerês, Outono de 2009
Para obter esta imagem, foi utilizado o filtro polarizador de forma a minimizar o brilho da rocha que reflecte muita luz na película de água.
Em termos práticos, os efeitos do filtro polarizador traduzem-se no forte escurecimento do céu (onde este já é mais escuro, o céu é uma fonte de luz polarizada), controle ou eliminação de reflexos em superfícies como água e vidro, aumento de saturação e contraste aparente constituindo cores mais vivas e intensas.
Sempre que a água está presente, fotografando cascatas, em floresta, ou simplesmente uma folha, o uso do filtro polarizador, ao atenuar reflexos, transforma completamente as cores da fotografia. Mas à semelhança de qualquer outro filtro, a sua aplicação e o efeito estético que proporciona é uma decisão do fotógrafo.
Considerações sobre estes filtros:
- alteram a exposição diminuindo a quantidade de luz em média de 1 a 1,5 stop;
- podem interferir com a leitura de exposição (exposímetro da máquina fotográfica);
- quando usados em objectivas ultra grande-angular, testar o efeito de vinhetagem;
- não devem ser utilizados em fotografia de retrato – pele sem reflexos em tons tipo veludo;
- não controla reflexos em superfícies metálicas.
“Leaf Spine”, Pitões das Júnias, 2009
O uso do polarizador numa folha humedecida permitiu saturar cores tornando-as muito vivas

Filtro de Densidade Neutra
O filtro de densidade neutra (Neutral Density – vulgo “ND”) existe em dois formatos: circular de rosca, ou quadrado para sobrepor à lente, com ou sem suporte adaptador (como por exemplo filtros de série profissional 100x100mm).
O efeito é a redução de luz que atravessa para a objectiva, possibilitada por uma constituição de resinas (polyester) ou vidro de absorção, que corta luz na proporção da sua espessura. Há outra construção possível, sendo a combinação de vidro de absorção com revestimento de uma fina película metálica reflectora.
No primeiro caso, a atenuação realiza-se apenas no espectro de luz visível, existindo filtragem na gama UV, enquanto que no segundo, esse tipo de construção é mais permeavél a uma gama de luz mais ampla, incluindo raios UV, podendo desta forma promover melhores resultados na atenuação de luz.
Um bom filtro ND deve ser mesmo neutro, diminuindo luz em igual proporção para toda a gama visível. Por vezes os fabricantes não são muito explícitos quanto à constituição dos seus filtros de densidade neutra, mas por experiência própria, já utilizei filtros ND de igual intensidade, que embora sendo do mesmo fabricante, não facultam resultados consistentes, provocando dominantes de cor.
Estes filtros variam em intensidade de corte de luz desde 1 ponto de exposição (stop ou EV) até 4, 6 ou 8 pontos de exposição, sendo estes os mais utilizados. Existem no entanto filtros de densidade neutra mais “fortes”, entre eles o recentemente lançado em Março de 2010 pela Lee Filters – o “Big Stopper” (10 stop) – ou o disponível na Cokin, nº 156 (NDX), que corta 13 stop de luz!
A aplicação prática da diminuição da intensidade da luz traduz-se em maior flexibilidade na relação de abertura e tempo de exposição, independentemente de existir muita luz disponível. O objectivo é obturar em velocidades mais lentas, surgindo diversas aplicações possíveis:
- Fotografar com velocidade mais baixa com plena luz do dia possibilitando efeitos de arrastamento, em folhagem, água ou nuvens, entre outros motivos; Por exemplo, em condições de luz do Sol a meio do dia um disparo resulta em velocidade aproximada de 1/125s, no entanto, com filtro 1.2 (4 stop) reduz-se a velocidade para 1/15s, própria para causar efeitos de movimento de água numa cascata, por exemplo;
- Fotografia de retrato: quando há muita luz disponível, e mesmo assim se pretende fotografar com grande abertura, potenciando o desfoque de fundo na imagem, pode ser utilizado o filtro ND para minimizar o tempo de exposição e permitir a abertura necessária;
- Longas exposições em fotografia urbana/arquitectura: para evitar a presença de pessoas numa imagem de arquitectura ao fotografar, por exemplo, num local turístico, pode-se optar por uma exposição longa de vários segundos, o resultado é o desvanecimento de pessoas, que serão suprimidas na fotografia;
- Diminuição de luz em fotografia com flash com velocidades “baixas” de sincronização.
Mais considerações sobre filtros ND:
- máximo cuidado no manuseamento, pois riscam com facilidade;
- concebidos em vidro ou resina (polímeros), sem revestimento;
- O filtro na minha mala é de factor 1.2, absorvendo 4 stop de luz, e já me deixa uma margem de manobra considerável, mas pretendo a aquisição de um filtro de factor ainda mais elevado;
- nem tudo é perfeito no uso do ND, e caso o filtro não seja mesmo neutro, a sobreposição com outro filtro ND (gradiente ou não) confere à imagem fortes dominantes de cor, geralmente magenta.
“A Pedra Gigante”, Cabo da Roca, 2009
Com filtro ND de 4 stop, diminuo o tempo de exposição para 15” a f/22, sem filtro poderia expor durante apenas 1”, não obtendo o efeito de “movimento” nas nuvens
Uma tabela de conversão será útil ao leitor ao trabalhar com filtros ND em campo, na hora de calcular a exposição. Imprima esta tabela (clique para ampliar) e coloque-a no seu saco junto ao equipamento fotográfico.
   Autor Texto e fotografia : Hélio Cristóvão http://zoomfp.com/?p=57
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